quinta-feira, 7 de maio de 2009

Atendendo a Pedidos

Depois de longos dias sem escrever nada que não fosse relacionado ao mestrado e às suas teorias literárias da pós-modernidade, consegui um intervalo para pensar em mim. E, fazer isso é, essencialmente, escrever. Por extensão, escrever é aparecer aqui no entrelinhas. Então, aqui estou eu. Atendendo ao pedido da Menina que me acompanha na tarefa de manter arejado este lugar (ainda que virtual) e, mais do que nunca, a um apelo daquilo que tenho por dentro e está saltando na vondade de sair.

Pois bem... hora de botar as coisas para fora!!!

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Ampulhetas e Bússolas


Havia seis meses que a única coisa que mudava naquele ambiente era a quantidade de pó nos móveis. Ninguém plantou novas flores, não foram feitos reparos na janela partida, nem mesmo a maçaneta da entrada fora trocada. O felino buscara um novo pires entre os vizinhos. Um quarto sem alma era tudo que se via pelo entreaberto da porta. Seis meses, seis horas, seis dias, seis anos, sei lá! Os instantes do tempo haviam se perdido por entre os grãos da ampulheta sobre a mesa de estudos.
Eu permanecera ali, tão vazia quanto meus olhos a apontar o norte quebrado da bússola que arremessara contra o vidro da janela. Não me levantara para virar o tempo. Deixei que se congelasse sobre o móvel marrom quase enegrecido pelo pó. Eu era apenas fuligem sobre os lençóis. Ou melhor, já não era. Não estava. Não me importava. Eu apenas restava. E o que a mim restava era esperar. Ela viria me buscar, mais dia, menos dia. Nunca fora convidada para participar de minha vida mas, assim como um hóspede inconveniente, habitava meu corpo, minha mente, meus olhos, minhas mãos. E, sem questionar, lhe entreguei as entranhas das minhas estranhas palavras. Não tinha mais voz, nem fala. Meu último gesto fora ficar sem norte. Seus passos dissipavam minha mudez e, arauto do destino, o eco anunciava que seria o momento de lhe entregar também meu fôlego, o derradeiro acompanhante. Pulmões inflados, para que o momento se retardasse uns grãos a mais; olhos quentes a escorrer, me aprontava para alargar o espaço entre os vidros da janela. Odiava o cheiro de cravos e jasmins que a simples idéia de sua existência me fazia sentir. Não sentia possuir coragem para encarar seus olhos de silêncio, mas permaneci ali, mais uma vez. Permaneci imóvel até que uma mão pequena e uns cabelos de nascer do sol empurraram a porta. Havia um bilhete num envelope negro: “Não poderei atender seu desejo. Aproveite os próximos 50 anos!”. Um vento quente soprou quarto a dentro e fez girar a ampulheta. Sem dizer palavra, os olhos azuis que se escondiam entre os cabelos de nascer de sol, tiraram do bolso a bússola arremessada. Novamente funcionando, magnética, para o norte.

6 comentários:

Menina disse...

Já falei o quanto amo quando escreve né?
Estava sentindo falta de você e dos seus textos por aqui, já estava tomando posse do lugar. rs
Beijos.
Muita saudade.
Amo.

ELAINE disse...

viajar no pensamento, sentimento, nas asas da imaginação...
acontece isso qdo leio seus textos...

e amo essa sensação.

te amo. Forever and Ever.

Nane

Unknown disse...

Fiquei com medo!

o.O

rsrs

Ainda vou treinar minha sensibilidade emocional e literária!

Minho disse...

Acho que agora vou começar a assinar assim, vc vai saber que é... xDD

Te Amo!

P.P disse...

PERFEITO...

Saudades...

Beijos Felinos!

Lauris disse...

Uau!
Querida e eterna mestra. Sempre que ler os seus textos garanto-lhes toda minha admiração.
É incrível a delicadeza que compõe cada linha... a sensibilidade que continua a cada ponto final.
Parabéns pelo amor as palavras!

Você é tudoooooooo de bomm!!

Te amoo! Beijooss