- Calma, o universo tem suas curvas, mas as elipses sempre se fecham...
Por que será que K sempre tinha as respostas poéticas na ponta dos dedos? E, por que nunca era eu a tê-las? Será que havia algo errado? Era muito mais fácil sentir que traduzir meus sentimentos, pensamentos, desejos. A amizade era forte, a cumplicidade também. Era quase uma fraternidade. Irmãs nascidas de pais, mães e lugares distintos. Família escolhida a dedo, na ponta dos dedos. E ela continuava traduzindo meu âmago.
- ... Ela está pensando na noite que virá.... No exato momento em que, fechadas num mesmo universo, não em paralelo como hoje, que comportará as energias de ambas e que... quando as mãos tocarem a pele e os lábios estabelecerem o vácuo para o exterior.... Acontecerá uma explosão recriadora de todo o universo circundante às vidas e existências de vocês.
Meu amor, um Big Bang? Quem mais senão K nos leria desse modo? Mais uma maneira peculiar de ler o mundo por seus olhos verdes. Também nunca entendi como sua visão astigmática lia minha B como se já a tivesse visto.
- Sei que você também sonha que seu leito fosse uma estrela espargindo luz no olho de um buraco negro, neutralizando a força que vive a subtrair tua presença da dela. Que suga a possibilidade de teus olhos cruzarem com o brilho do sorriso que só ela tem.
Olhos fechados, eu me limitava a imaginar o infinito estabelecido para que eu e B pudéssemos ter nos encontrado nessa vida. Intangenciável universo em que nos pertencíamos, em que nossos sonhos trocavam segredos.
- E cada estrela dessa bucal constelação piscando em ritmo próprio é um convite à concretude para todos os anseios trocados pelas noites em que o negro da tela se convertia em planetário.
Despercebidamente, um pingo de saudade rolou por minha face. Sentia saudades das mãos que preenchiam meus poros, da umidade que me saciava a sede. Saudade de coisas que nunca haviam sido minhas pelo tato, ou pelo paladar. Coisas que só o sexto sentido possuíra incontáveis vezes.
Em desatino, minha mente recriava os mais acalorados sonhos em que janelas suavam o vapor de nossos corpos e paredes reverberavam os sussurros que não mais precisavam ser calados, nem bem educados. Podíamos deixar que o teto se convertesse em céu, as nuvens em testemunhas e a lua fosse a julgadora do mérito do nosso amor.
- Planetário em que o gigante Órion é coadjuvante num universo em tremenda evolução e conspiração pelo amor de vocês.
Apoiada em meus cotovelos, deixei K contemplar o vermelho dos meus olhos. Ela conseguira transformar o que era choro de saudade em compulsão de esperança. Eu sorria novamente, por entre o sal dos cantos dos lábios. Não havia mais tristeza pelo ainda por vir. O que existia era mais aspiração pelo futuro. Desejava, com toda a honestidade da minha alma que os dias que me seapravam de B planassem como nebulosas. Repletos de eteriedade.
Haveria sempre o sol das manhãs para guiar meus passos para a cumplicidade de nossas noites. Haveria sempre um anjo velando por mim, por B, e pelo amor. K estaria sempre lá, mirando-me nos olhos como se todas as galáxias de meus pensamentos e sentimentos orbitassem sua alma.
O que falar? Como expressar gratidão pela paz que o universo me dava? Eu tinha B. Ela seria minha, ela já era minha e eu a ela pertencia. Voluntariamente. Voluptuosamente. Universalmente.
Mais uma vez... fui traduzida por meus olhos. K e eu nos abraçamos. E a paz que era minha se tornou nossa. Minha, de B e de K.