quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Clarice


Certas noites ela saia para correr. Noutras, flertava com meia dúzia de estrelas selecionadas em diferentes constelações para evitar o ciúme. Nalgumas, corria com os cães da praça uivando para os prédios que a lua usava como escudo. Muitas vezes, escondia seus pensamentos numa garrafa que enterrava atrás da casa. Pobre garrafa esverdeada com o marrom decorando seu exterior, era preferível que tudo fosse o interior, branco e preto, branco e azul, sempre salpicado de sangue!.
Durante os dias, fitava os pés, alma vazia, olhos negros como os dizeres dentro do vidro aos pés da árvore do quintal. Sobreviver aos chefes, aos memorandos, aos trins, aos trens, às baldeações, aos sorrisos pardos... Um grande tudo que não lhe dizia nada. Quem a olhasse veria o cabelo preso, a blusa branca, o crachá e só! Afinal, Clarice tinha a alma escura, esverdeada, coberta de marrom.

5 comentários:

Anônimo disse...

Lindo Anjo!
vc se supera a cada dia

LL disse...

Como sempre maravilhosa!E pra não variar me encontro um pouquinho no teu post...Beijos !

Anônimo disse...

Essa Clarice parece ser uma pessoa interessante, mas um tanto quanto solitária. Pensando bem, creio que nessa época, muitas pessoas, mas eu principalmente, fico assim como ela: correndo pela noite, flertando com diferentes estrelas ou escondendo atrás de uma garrafa somente para sobreviver mais um dia, esperando que quando o amanha chegar, ele traga um novo começo. Meio depre eu sei, mas é isso.

Rosa Canela disse...

Oi Amada ...
depois de muito tempo estou de volta tentando achar entre as bagunças do que sobrou do Cirandas ..mais com muitas idéias na cabeça ...te ligo pra contar em alguns dias ...
Quanto ao post ..sem palavras ..me encontrei tantas vezes sendo Clarice em pé em uma plataforma qualquer ..olhando a ponta dos pés com a cabeça vazia!

Amei...

te amo ..sempre!

Selminha disse...

Todos temos um pouco de Clarice em nós...parabéns, again and again...