segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Caleidoscópio



Um dos maiores exemplos de que tudo depende do ponto de vista é a tal da "verdade". Para aqueles que acreditam, Papai Noel, Saci Pererê, Duendes, bons políticos, todos existem e atuam entre nós. Para os descrentes, é tudo "mentira". Cartesianamente, relativizamos tudo em binarismos e nos cegamos para uma simples questão. Verdade, no singular e com maiúscula, ou verdades, no plural e minúsculas.


Gostamos de polarizar e adoramos provar que "estamos com razão", que "na verdade" "não é bem assim" como os outros pensam. é tão importante nos elevarmos que acabamos por desenvolver o hábito da diminuição alheia. E, se a verdade nos pertence, ao outro sempre reservamos a mentira, a fantasia, a farsa, o engano.


Caramba, será que nos falta tanto amor assim que nos negamos a cogitar a possibilidade de que exista a verdade do outro e do outro e de outros mais? Considerar que ao outro também possam ter sido revelados aspectos de um todo infinitamente complexo a pessoas, crenças, posturas díspares das nossas é uma amostra pálida porém eficiente de amor ao próximo pois revela que somos capazes de nos concentrar mais naquilo que nos equaliza do que no que nos diferencia, mostrando o outro como um igual em potencial e não como um inferior.


A verdade do outro passa a ser complementar e não excludente.


Matizada de azul, pink, amarelo ou verde, a vida supera o cinza que separa o preto obscuro do branco cegante. Agregando as cores das outras verdades, nessa dança constante em que os atores sempre trocam de lugar, nossos olhos enxergam em caleidoscópio e educamos o coração para a maleabilidade, a razão para o semovente e, acima de todas as outras coisas, desatrofiamos o amor, levando-o à expansão para além das fronteiras da cicatriz do nosso cordão umbilical.


Que bom se o republicano e o democrata tomassem chá com o socialista; se o de turbante visse luz nos olhos do de quipá; se o que fala em línguas ouvisse o que fala com espíritos; se o criacionista e o adepto do Big Bang evoluíssem também.


Porque, assim, ao invés de egos ouviríamos ecos. Ressoares de sorrisos, abraços, beijos, apertos de mão não em nome da convivência, nem da tolerância, nem do respeito, porque esses são apenas sobrenomes da grande palavra que muitas vezes sonhamos conhecer por amor. E, afinal de contas... todo caleidoscópio não passa de reflexão, pequenos espelhos, luz e um ponto de fuga, que, ao passar de mão em mão, são mudados e alteram a forma de observar o fenômeno. Quantas possibilidades! Quantas variações feitas por um amontoado de fita crepe e plástico colorido!


Basta mudar as posições. Um passo a mais na direção do outro e jamais os veremos da mesma maneira. E jamais seremos vistos pelo mesmo ponto de vista. Conheceremos as verdades e elas nos aproximarão!


2 comentários:

... disse...

O acaso me trouxe até aqui... o acaso já foi, e eu fiquei a te ler - gostei do que li... voltarei...

beijo desta maluka de paz

Selminha disse...

belíssimo texto...é, tudo na vida tem três lados...o meu, o seu e o certo...